sábado, 7 de março de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Memória (comemoração) das santas Perpétua e Felicidade



Da narração do martírio dos santos Mártires de Cartago

Chamados e escolhidos para a glória do Senhor

        Despontou o dia da vitória dos mártires. Saíram do cárcere e entraram no anfiteatro, como se fossem para o céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha a fisionomia alterada, era de alegria e não de medo.
        Perpétua foi a primeira ser lançada aos ares por uma vaca brava e caiu de costas. Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade Caída por terra, aproximou-se, deu-lhe a mão e ergueu-a. Ficaram ambas de pé. Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária. Ali, Perpétua foi recebida por um catecúmeno chamado Rústico, que permanecia sempre a seu lado. E como que despertando do sono (até esse momento estivera em êxtase do espírito), começou a olhar ao redor e, para espanto de todos, perguntou: “Quando é que seremos expostas àquela vaca?” Ao lhe responderem que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Depois, chamando para junto de si seu irmão e aquele catecúmeno, disse-lhes: “Permanecei firmes na fé, e amai-vos uns aos outros; não vos escandalizeis com os nossos sofrimentos”.
        Por sua vez, Sáturo, em outra porta do anfiteatro, animava o soldado Pudente com estas palavras: “Até este momento, tal como te havia afirmado e predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Mas agora crê de todo o coração: vou avançar de novo para ali, e com uma só dentada de leopardo morrerei”. E imediatamente, já no fim do espetáculo, foi lançado a um leopardo; este, com uma só dentada lhe derramou tanto sangue, que o povo, sem saber o que dizia, dando testemunho do seu segundo batismo, aclamava: “Foste lavado, estás salvo! Foste lavado, estás salvo!” Realmente estava salvo quem deste modo foi lavado.
        Então Sáturo disse ao soldado Pudente: “Adeus! Lembra-te da fé e de mim; que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem. Pediu-lhe depois o anel que trazia no dedo e, mergulhando-o na ferida, devolveu-o como uma herança, deixando-lhe como penhor e lembrança do sangue. Em seguida, já esgotado, foi deitado com os outros no lugar de costume para o golpe de misericórdia.
        O povo, no entanto, exigia em alta voz que fossem levados para  meio do anfiteatro aqueles que iam receber o golpe final; pois queriam ver com os próprios olhos, cúmplices do homicídio. A espada penetrar nos corpos das vítimas. Os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para onde o povo queria; depois deram uns aos outros o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz. Todos receberam o golpe da espada, imóveis e em silêncio; especialmente Sáturo, que fora o primeiro a subir e o primeiro a entregar a alma. Até o último instante ia confortando Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou a sentir o golpe em seus ossos, puxando ela própria para sua garganta a mão indecisa do gladiador inexperiente.
        Talvez esta mulher de tanto valor, temida pelo espírito do mal, não tivesse podido ser morta de outra maneira senão querendo ela própria.

        Oh mártires cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e escolhidos para a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que achou desse texto? Ele ajudou, de alguma forma, em sua reflexão ou prática litúrgica? Este quer ser também um espaço para partilha!