quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Teologia dos ministérios III

Mas afinal, o que é ministério?


A palavra ministério vem do latim “ministerium” e significa o “ofício próprio do servo”, uma função de serviço. Devemos entender os ministérios a partir do sentido de servisalidade. Quem é o servo? É aquele que presta serviço ao seu senhor sem nada ter de direito.

Há duas outras palavras relacionadas ao conceito de ministérios. São elas, diaconia (diakonia) e liturgia (leiton-ergon). O diácono é aquele que serve a mesa. No Novo Testamento foi instituído para servir as viúvas e aos órfãos. A palavra liturgia significa: serviço prestado ao povo. Na sua origem é todo serviço público prestado em favor do povo. Somente mais tarde é que passou a ter um significado puramente religioso como serviço do culto prestado em favor do povo. Podemos ver claramente nestes dois termos a presença do conceito de serviço.

A Sagrada Escritura também nos fornece uma definição precisa de ministério. Em termos bíblicos, significa serviço prestado a Deus ou às pessoas, e a Bíblia o emprega para designar um

serviço assumido em caráter permanente e oficial. O Concílio Vaticano II reafirma o conceito de ministério como serviço prestado .

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Uma riqueza guardada em vasos de barro


Pe Rodrigo José Arnoso Santos, CSSR




  
            A Igreja após celebrar o Concílio Vaticano II, assistiu ao nascimento dos seus novos livros litúrgicos. Estes nascem como o resultado de uma profunda reflexão, sobre a necessidade de uma renovação da vida litúrgica da Igreja, a qual deveria ser compreendida pela comunidade eclesial, como cume e fonte de toda a vida cristã: “a liturgia é o cume para o qual tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de que promana sua força”[1].  Para atingir tal propósito conciliar, muitas comissões foram formadas e coube a estas, pensarem livros, capazes de serem adaptados as diversas culturas, onde a Igreja se faz presente, com a árdua tarefa de tornar o Cristo conhecido e amado, para que Nele todos os povos tenham vida.
            Os estudos sobre o Vaticano II, nos permitem afirmar que a grande preocupação deste Concílio, não foi a de apresentar definições dogmáticas, mas a de motivar em tempos modernos, um profícuo diálogo entre Igreja e uma sociedade marcada por rápidas transformações. Tal princípio perseguido pelos padres conciliares, tinha por escopo promover uma renovação na vida teológica, pastoral e litúrgica da Igreja. É mister relembrar, que todo processo de renovação da vida da Igreja, começa com a publicação da Constituição Conciliar sobre a liturgia, denominada de Sacrosanctum Concilium (SC). Este documento conciliar deve ser compreendido como o ponto de chegada e o ponto de partida, para todo o processo de renovação da vida litúrgica da Igreja. Ponto de chegada por representar uma síntese de todo o processo de reflexão, sobre a necessidade da renovação da vida litúrgica da Igreja, iniciado pelos membros do Movimento Litúrgico, que preocupavam-se com o resgate do sentido teológico da liturgia. Ponto de partida, por apresentar as orientações para uma sana renovação da vida litúrgica da Igreja, com o escopo de motivar uma participação ativa e consciente de toda comunidade cristã na ação litúrgica.[2]
            Com escopo de promover uma participação ativa e conciente umas da preocupações dos padres conciliares foi a de motivar a revisão e renovação dos livros litúrgicos. “Revejam-se, quanto antes, os livros litúrgicos das diversas regiões, com o auxílio de peritos e de acordo com os bispos”[3]. Porém, a pergunta que emerge neste ponto é: o que é um livro litúrgico? A resposta a tal indagação encontramos em um artigo de I. Scicolone, “Libros Litúrgicos”:

Por livro litúrgico, em sentido estrito, entende-se um livro que serve para a celebração litúrgica, tendo sido escrito com vistas a ela. Em sentido mais amplo, é o livro que, embora não tendo sido escrito com vistas a celebração contêm textos e ritos de uma celebração, tanto se foram usados como se não o foram. Além destas fontes litúrgicas diretas, existem também os escritos que nos informam sobre o fato litúrgico, sem por isso ser livros litúrgicos, como textos de história, escritos dos padres, documentos do magistério.[4]

            Tal definição apresentada por Scicolone, nos permite afirmar que o livro litúrgico deve ser tratado com zêlo e respeito, pois nas páginas que formam o mesmo, encontramos o registro da lex orandi, lex credendi e lex vivendi da comunidade eclesial. “O livro litúrgico deve ser respeitado e até venerado. É ao mesmo tempo, uma fonte para a história da liturgia e, particularmente, do rito que contém”.[5] O cuidado e a veneração destes livros se dá pelo fato de que, por meio destes, durante a celebração litúrgica Deus se comunica com a assembleia, que ele mesmo reuniu para bendizê-lo e adorá-lo.
            Deste modo podemos intuir que as linhas que compõem um livro litúrgico, nos indicam um caminho mistagógico, o qual deve ser percorrido por cada um dos membros da comunidade cristão, com o escopo de um encontro pessoal com o mistério da nossa fé, o Cristo, caminho pelo qual chegamos ao Pai, iluminados pela presença santificadora do Espírito Santo, força que faz mover a vida litúrgica da Igreja. A compreensão do livro litúrgico como um caminho mistagógico, nos possibilita contemplar a celebração litúrgica, como um momento oportuno para se educar os cristãos, em vista de uma vivência madura da fé. Pois, “o fim da liturgia é a santificação do homem: de fato, é por meio da santidade de vida que se rende glória a Deus”.[6]
            As comissões responsáveis pela revisão e elaboração dos novos livros litúrgicos, segundo as orientações do Concílio Vaticano II, souberam criativamente unir os mais belos textos eucológicos da Tradição Litúrgica da Igreja, com a elaboração de novos textos. Isto nos permite afirmar, que um livro litúrgico é uma grande riqueza guardada em vasos de barro. Todavia, esta riqueza não é conhecida em profundidade pelas nossas comunidades cristãs. Primeiro porque aqueles, que são os responsáveis em  presidir a assembleia cristã, muitas vezes desconhecem o conteúdo teológico, litúrgico e pastoral presentes nestes livros. Segundo porque para muitos criatividade litúrgica, significa necessariamente abandono dos livros litúrgicos. Os que assim pensam, comprovam que não foram formados na ars celebrandi, ou seja, na arte de bem celebrar.
            O conhecimento dos elementos que compõem um livro litúrgico auxilia uma comunidade cristã a viver uma liturgia inculturada, expressão viva de uma comunidade que se reúne para ouvir, meditar e alimentar-se da Palavra de Deus. Sabemos que cada assembleia celebrante, tem a sua fisionomia, pois cada comunidade tem a sua história e se reúne para celebrar, trazendo consigo situações nas quais se encontra mergulhada. “Cada comunidade imprime na liturgia um caráter particular: não pode existir uma liturgia universalmente assética, que não assuma o rosto singular de uma comunidade concreta”.[7] Uma liturgia que não assume a fisionomia de uma comunidade, não consegue exercer a sua função mistagógica, ou seja, de introduzir toda assembleia celebrante, no mistério pascal celebrado e atualizado por meio da celebração litúrgica.  
            Conhecer para bem celebrar, eis aqui a chave para resgatarmos em nossas comunidades a riqueza que encontramos nos livros litúrgicos. A porta da celebração dos 50 anos da revisão e elaboração dos novos livros litúrgicos é preciso resgatar ou implantar em nossas comunidades o serviço da Pastoral Litúrgica. Porém, está pastoral não pode ser compreendida apenas como uma equipe para a preparação e avaliação das celebrações, realizadas em uma comunidade, mas esta deve ser entendida como formadora de uma assembleia, na arte de bem celebrar.
            A Pastoral Litúrgica responsável pela formação da comunidade na ars celebrandi, deve trabalhar para que esta tome consciência da rica teologia litúrgica, presente nos ritos e preces que compõem os livros litúrgicos. Esta pastoral deve pouco a pouco, conduzir a comunidade cristã a consciência de que: “a liturgia é um grande rio no qual confluem toda a energia e manifestação do mistério, desde quando o corpo do Senhor vivo junto ao Pai, continua a ser oferecido aos homens na Igreja, pela vida dos mesmos. A liturgia não é uma realidade estática: uma recordação, um modelo, um princípio de ação, uma expressão de si ou uma evasão angélica.”[8] A formação da comunidade da arte de bem celebrar é um dos elementos esseciais para a salutar, participação da comunidade na liturgia. Quanto mais conhecemos os ritos e preces que utlizamos nas celebrações realizadas pela comunidade cristã, melhor vivenciamos o momento celebrativo. Onde todo o nosso ser é envolvido.
            Uma comunidade bem instruída, para bem celebrar o mistério da nossa Salvação,  certamente conseguirá compreender a riqueza da teologia litúrgica que permeiam as linhas que compõem um livro litúrgico. Consequentemente, se superará os preconceitos, sobretudo aquele que afirma que um o livro litúrgico, com seus ritos e preces é um instrumento incapaz de promover uma liturgia inculturada.
            Já que acenamos para a necessidade de uma formação, para melhor conhecermos os ritos e preces que utilizamos nas nossas celebrações, exortamos a todos, sobretudo, os responsáveis pela instrução do povo de Deus, a lerem as Praenotanda, dos livros litúrgicos. Nestas encontramos as  orientações para a compreensão dos elementos teológicos, pastorais e litúrgicos presentes nestes livros. “Estudar os próprios livros é a chave fundamental para celebrar em espírito e verdade a liturgia. E isso tanto com as introduções de cada livro como com seu conteúdo eucológico ou a seleção de leituras bíblicas, ou ainda a abordagem dos sinais sacramentais”.[9]
            Valorizar e respeitar os livros litúrgicos é reconhecimento do importante papel, que estes exercem na formação e no processo de amadurecimento da fé dos membros da comunidade cristã. Como membros da comunidade cristã não podemos conceber estes livros apenas como material de pesquisa, mas devemos assumi-los como o caminho para pensar uma liturgia capaz de levar em considerações elementos de uma cultura particular, que nos ajudam a celebrar de um modo ativo e consciente a Páscoa de Cristo, na Páscoa da comunidade. Zelemos como comunidade cristã, para que este tesouro guardado em vasos de barro, possa continuar transpondo gerações e se adaptando as diversas realidades culturais, exercendo assim a sua função primordial, tornar sempre atual o Mistério Pascal de Cristo, na vida da comunidade cristã, que no mundo busca continuar a presença salvadora do Redentor.
           
             

Bibliografia

Boseli, G., Il senso spirituale della liturgia, Qiqjon – Comunità di Bose, Magnano 2012.
Corbon, J., Liturgia alla Sorgente, Qiqajon – Comunità di Bose, Magnano 2003.
Russo, R., “Os livros Litúrgicos”, in VV.AA., Manual de Liturgia CELAM II. A celebração do mistério pascal: fundamentos teológicos e elementos constitutivos, Paulus, São Paulo 2011, 407-430. 
Sacrosanctum Concilium Oecumenicum Vaticanum II, “Constitutio de Sacra Liturgia Sacrosanctum Concilium (4 decembris 1963)”, AAS 56 (1964) 97-138.
Scicolone, I. – Farnés, P., “Libros litúrgicos”, NDL 1127-1144.
Tomatis, P. “La liturgia, forma fidei – forma vitae: un’obbedienza feconda”, RL 98 (2011) 237.




[1] SC 10
[2] Cf. SC 30
[3] SC 25
[4] I. Scicolone – P. Farnés, “Libros Liturgicos”, NDL 1127-1128
[5] R. Russo, “Os livros Litúrgicos”, in VV.AA., Manual de Liturgia CELAM II. A celebração do mistério pascal: fundamentos teológicos e elementos constitutivos, Paulus, São Paulo 2011, 407.  
[6] G. Boseli, Il senso spirituale della liturgia, Qiqjon – Comunità di Bose, Magnano 2012, 8.
[7] P. Tomatis, “La liturgia, forma fidei – forma vitae: un’obbedienza feconda”, RL 98 (2011) 237.
[8] J. Corbon, Liturgia alla Sorgente, Qiqajon – Comunità di Bose, Magnano 2003, 282.
[9] R. Russo, “Os livros Litúrgicos”, in VV.AA., Manual de Liturgia CELAM II. A celebração do mistério pascal: fundamentos teológicos e elementos constitutivos, Paulus, São Paulo 2011, 423.  

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Teologia dos ministérios II

Os ministérios na missão da Igreja


Falar de ministérios é falar da própria missão da Igreja, pois, todos os ministros estão a serviço da missão que a Igreja recebeu de Jesus Cristo. 

Jesus cumpriu a missão que recebeu do Pai, levando ao pleno cumprimento em sua paixão, morte e ressurreição. Porém, ele sabia que esta obra, que sua missão deveria chegar a todos os homens e mulheres deste mundo até a parusia. Por isso, ele constituiu os doze confiando a eles a continuidade de sua missão. Esta continuação da missão de Jesus Cristo é assegurada com o envio do Espírito Santo, fazendo com que a Igreja nascente se manifestasse ao mundo e levasse a todos a boa notícia do Reino.

A missão de Cristo é fundante e originante, enquanto que a missão da Igreja é continuadora da missão de Cristo. Podemos dizer que a missão da Igreja é:

a) Continuadora – porque prolonga na história o que o próprio Jesus Cristo realizou;

b) Referente – porque tem seu sentido e referência em Jesus;

c) Realizante – porque a Igreja deve atualizar e promover a salvação que Jesus Cristo nos trouxe;

d) Impulsionante – porque deve promover o Reino de Deus até o fim dos tempos.

A missão da Igreja tem as mesmas dimensões e características da missão de Jesus Cristo:

a) Dimensão profética ou da palavra (martyría);

b) Dimensão sacerdotal ou da liturgia (leitourgía);

c) Dimensão da caridade e da justiça (diakonia);

d) Dimensão da comunhão e da unidade (koinonía).

Da missão de Jesus Cristo nascem e fundamentam-se as diversas dimensões da missão que concentram em torno de si a diversidade de ministérios. Em torno da missão de Cristo a diversidade de ministérios encontra sua unidade. O Concílio Vaticano II afirma que: “existe na Igreja diversidade de ministérios, mas unidade de missão” . Esta unidade está no cumprimento da missão herdade de Jesus.

A missão de Jesus compromete a todos os membros da Igreja, todo o povo de Deus. Como afirmam os padres conciliares: “não existe assim membro que não tenha parte na missão de todo o Corpo” . Nela todos participam sejam os ministros ordenados e os não-ordenados (cf. AA 2).

Os ministérios afetam toda a Igreja como constitutivo de seu próprio ser e missão, ou seja, a Igreja não apenas possui ministérios, mas ela é toda ministerial, deve estar constantemente a serviço do Reino de Deus. Embora haja diferentes ministérios na Igreja, isso não significa que sejam exclusivos, pois os ministérios estão na Igreja para o cumprimento de sua ministerialidade.

Podemos concluir que por serem constitutivos da essência da Igreja, os ministérios não são exclusividades, mesmo os ordenador. Isto nos faz concluir igualmente que os ministérios na Igreja não são meras funções secundárias na sua missão, mas essenciais à Igreja. Eles não são acidentais a Igreja, mas fazem parte da sua estrutura.

Para realizar sua missão, a Igreja precisa dos ministérios e isto acontece do seguinte modo:

1) Relação acontecimento salvífico: continuidade histórica: em sua missão a Igreja dá continuidade à missão salvífica de Jesus Cristo. Ela é a mediação fundamental e cumpre esta missão através dos ministérios;

2) Relação missão – dimensões da missão: a diversidade de dimensões da missão de Jesus Cristo exige de igual modo a diversidade de ministérios;

3) Relação Espírito Santo – dons e carismas do Espírito: o Espírito Santo é a alma da missão da Igreja. Ele é princípio de unidade e ao mesmo tempo de diversidade. Todo ministério nasce de um carisma e supõe um carisma que nem sempre é idêntico;

4) Relação “alguns” – “todos”: desde cedo no Novo Testamento aparece “alguns” que receberam uma missão específica em relação a “todos”, mas não significa exclusividade, pelo contrário, pressupõe a diversidade ministerial;


Ao dizermos que os ministérios são um elemento constitutivo da Igreja, significa que também deve ser para a comunidade de forma concreta. Os ministérios devem ser entendidos não por cima da Igreja, mas no seu interior. A comunidade existe ministerialmente. Os ministérios não são um fim em si mesmos, mas um meio que deve concretizar-se a partir das necessidades da comunidade. Portanto, é preciso sempre partir das necessidades reais da comunidade para o surgimento dos ministérios em seu interior, e quem os suscita é o Espírito Santo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Homilia do 1º Domingo da Quaresma



“Estabelecer a paz”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira, C.Ss.R.


 Aliança para a paz

               Quando entra em Jerusalém, o Senhor chora sobre a cidade: “Ah! Se neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz” (Lc 19,42). Na primeira leitura lemos que Deus faz aliança com Noé e coloca seu arco no céu. É o arco-íris que lembra o arco de guerra. Deus quer a paz (Gn 9,13). No Natal os Anjos cantam aos pastores: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que Ele ama” (Lc 2,14). Paulo exclama: “Deixai-vos reconciliar” (2Cor 5,20). O Messias veio para trazer a paz e a reconciliação. Chamamos de Quaresma (40 dias) esse tempo de preparação para a Páscoa para viver a reconciliação pela Morte e Ressurreição do Senhor. As leituras nos levam a perceber a aliança que Deus fez durante a história da salvação para culminar com a aliança selada com o sangue do Filho. A salvação chega a nós e é explicada através de muitos símbolos. Na leitura sobre o dilúvio entendemos que as águas nos purificam e a arca simboliza o batismo que hoje é nossa salvação como nos explica Pedro (2Pd 3,21). Neste quadro de aliança, surge a questão da tentação. É bom ser tentado, como nos diz S. Agostinho: “Enquanto somos peregrinos neste mundo, não podemos estar livres de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigo e tentações” (CCL 39,766). As tentações de Cristo nos animam a não temermos. Ele foi realmente tentado, como nós. “Ele nos representou em sua pessoa quando quis ser tentado… Em Cristo tu eras tentado, porque Ele assumiu tua condição humana, para te dar a sua salvação… Se Nele fomos tentados, Nele também venceremos o demônio… Reconhece-te Nele em sua tentação, reconhece-te Nele em sua vitória” (Idem). Esta vitória nos dá a paz e reafirma nossa aliança. Na oração, no texto original em latim, dizemos sacramento da Quaresma. Como sacramento, não só lembra, mas torna presente o mistério recordado e faz agir.

Vitórias sobre o mal

Deus projeta uma permanente aliança. Pendurou seu arco no céu e não quer mais castigar a terra. Para superar as grandes tentações contra o projeto de paz de Deus, o esforço humano procurará mudar de mentalidade, que significa converter-se. Certamente não temos as belas tradições do passado. Houve um aprofundamento. Não ficamos na periferia das questões, mas vamos a sua raiz. É a vitória sobre o mal. É a Páscoa que se atualiza na vida de cada um. O profeta Joel é claro: “Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes” (Jl 2,13). Não bastam atitudes exteriores, é preciso mudar a fonte do mal que nos domina. Aí sim podemos assumir as atitudes bonitas da penitência, do jejum e outros. É preciso encontrar modos que correspondam ao nosso mal. Rezamos: “Mostrai-nos Senhor vossos caminhos, fazei-me conhecer vossa estrada” (Sl 24).

Uma comunidade de vida.

               No deserto Jesus vivia entre os animais selvagens e os anjos O serviam. A comunidade tem dificuldades que são selvagens. Mas temos também, nessa comunidade, o serviço mútuo dos anjos que sevem. A Quaresma não é um exercício individual, mas uma comunhão de vida no serviço fraterno, sobretudo para com os mais necessitados. É de se pensar em tirar um pouco do que temos para dar aos que não o tem. Dar vida é o que nos garante ter  Vida. O tempo de deserto para Jesus não era solidão, mas comunhão com o Espírito Santo. Daí parte para evangelizar semeando a paz.

Leituras: Gênesis 9,8-15; Salmo 24; 2Pedro3,18-22;Marcos 1,12-15

Ficha nº 1416 – Homilia do 1º Domingo da Quaresma (22.02.15)

O Messias veio trazer a paz e a reconciliação. Deus diz a Noé que não vai destruir a terra, por isso pendura seu arco no céu. Na Quaresma preparamos a Páscoa para celebrar e viver a reconciliação. No quadro da Aliança aparece a tentação. Ela é boa, nos ensina a lutar e nos fortalece no combate. Em Cristo somos tentados e Nele vencemos.
Para superar a tentação contra o projeto de paz de Deus, o esforço humano procurará mudar a mentalidade através conversão. Mudaram-se as tradições. Aliás, aprofundou-se o sentido da Quaresma. Vamos à raiz. É a vitória sobre o mal. Não bastam atitudes externas, é preciso tirar o mal que nos domina. Assim podemos assumir as atitudes externas mais aptas a nós.
Em seu jejum Jesus vivia entre os animais selvagens e era servido pelos anjos. Na comunidade temos o serviço mútuo feito pelos anjos com quem vivemos na comunhão do amor fraterno. Dar vida é o que garante a nossa vida. O tempo de Jesus no deserto não era solidão, mas comunhão com o Espírito.

Mais feio que parece

Iniciando a Quaresma ouvimos que Jesus foi tentado. Ele vivia nossa condição humana e participou em tudo de nossos sofrimentos. É bom ser tentado para ver a força que temos para corresponder à proposta de Jesus. Ele nos dá a graça para vencermos.

O diabo não é tão feio como pintam, mas, mais perigoso do que parece.

            Temos muitos símbolos na Quaresma.  As águas simbolizam a purificação. A arca lembra o batismo que é o lugar para celebrar a purificação pelo perdão. Por isso rezamos no salmo: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, fazei-me conhecer vossa verdade. Vossa verdade me oriente e me conduza” (Sl 24).
            A partir da vitória sobre a tentação, Jesus inicia sua pregação: “O Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
            A Quaresma não é só um tempo litúrgico. É um sacramento no qual temos muitas práticas que nos levam a viver o Mistério Pascal de Cristo, fonte de todos os sacramentos.



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Homilia da Quarta-feira de Cinzas



Fortaleza no combate

Pe. Luiz Carlos de Oliveira, C.Ss.R.


            Iniciamos a Quaresma com a cerimônia da imposição das cinzas. É uma tradição antiga que significa entrar em penitência e conversão. Por esse rito iniciamos a caminhada para a Páscoa com a renovação de nosso batismo pelo qual participamos da Morte e Ressurreição do Senhor. É um momento importante para aprofundar a vivência do Mistério Pascal de Cristo. Na oração de bênção das cinzas imploramos: “Derramai a graça da vossa benção sobre os fiéis que vão receber estas cinzas para que, prosseguindo na observância da Quaresma, possam celebrar de coração purificado o Mistério Pascal do vosso Filho”. É tempo de reconciliação com Deus aprofundando as exigências da aliança que fizemos em nosso Batismo e confirmamos em cada Eucaristia. Paulo insiste na carta aos Coríntios: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus… Exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus” (2Cor 6,1). E lembra que estamos em um tempo favorável: “É agora o tempo favorável, é agora o dia da salvação” (2). A aclamação ao evangelho exclama: “Oxalá ouvísseis hoje sua voz: não fecheis os corações como em Meriba” (Sl 94,8). O combate é contra o mal que criamos e consome nossas forças. A tentação Jesus é a nossa também. Vamos vencer com Ele, porque estamos unidos a Ele em seu mistério de Paixão, Morte e Ressurreição.  A graça é maior que nossas fraquezas.

Dimensões da luta

Vivemos um processo de conversão. Para esse tempo, temos como meio o que Jesus ensina: oração, jejum e esmola. O jejum é muito aconselhável. Não se trata de passar fome, mas de predispor à caridade e à oração, sem os quais o jejum perde o sentido. Isso já proclamou o profeta Isaías (Is 58,1-8). É interessante notar que a prática quaresmal de jejum, abstinência e oração são explicitações das três dimensões fundamentais do ser humano: sua relação com o Divino, com o outro e o mundo. Não se trata de um rito de passar fome, rezar e dar uma esmolinha, mas restaurar a harmonia do ser humano. O desequilíbrio da pessoa está na má gestão destes relacionamentos. O homem restaurado será o homem ressuscitado em Cristo, com novas atitudes. De Deus somos filhos, do outro somos irmãos e do mundo somos protetores. Se mudarmos este quadro e passamos a ser guiados pelas realidades do mundo, nós as tornamos deuses; Deus se torna outro qualquer sem significado para nossa vida. O irmão será escravo de um mundo explorado. Chegamos ao desequilíbrio e desarmonia. A oração nos faz voltar a Deus, A esmola nos torna fraternos e o jejum nos põe em equilíbrio no mundo. Fazer fechados no quarto significa o quarto do coração. Nesse, Deus habita e conhece.

Tempo de penitência


Pedimos perdão, pois somos pecadores. O jejum é a luta do dia a dia para vencer o mal. E a caridade sustenta essa luta e nos põe a serviço dos irmãos. Rezamos no prefácio da Eucaristia deste dia: “Pela penitência da Quaresma corrigis nossos vícios, elevais nossos sentimentos, fortificais nosso espírito fraterno e nos garantis uma eterna recompensa”. Jesus pede sinceridade de coração. Que ela seja encontro com Deus. A esmola seja oculta, pois só é boa quando é feita por Deus. O jejum não é passar fome, mas tirar o supérfluo em nossa vida. O mal pode nos dominar. Se cortarmos suas raízes ele morre. Para vencer é preciso buscar na Palavra de Deus e ter criatividade para superar. A campanha da Fraternidade convida à solidariedade. A morte de Jesus é solidariedade com todos que sofrem sob o peso do pecado. Ele assume nossos males e os prega na cruz com Ele.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Texto do Ofício das Leituras da memória de são Cirilo e são Metódio

Da Vida eslava de Constantino



Fazei crescer a vossa Igreja e a todos reuni na unidade

Constantino Cirilo, fatigado por muitos trabalhos, caiu doente; e quando já havia muitos dias que suportava a enfermidade, teve uma visão de Deus e começou a cantar: “O meu espírito alegrou-se e o meu coração exultou, quando me disseram: Vamos para a casa do Senhor”.
Depois de ter revestido as vestes de cerimônia, assim permaneceu todo aquele dia, cheio de alegria e dizendo: “A partir de agora, já não sou servo nem do imperador nem de homem algum na terra, mas unicamente do Deus todo-poderoso. Eu não existia, mas agora existo e existirei para sempre. Amém”. No dia seguinte, vestiu o santo hábito monástico e, acrescentando luz à luz, impôs-se o nome de Cirilo. E assim permaneceu durante cinquenta dias.
Chegada a hora de encontrar repouso e de emigrar para as moradas eternas, erguendo as mãos para Deus, orava com lágrimas: “Senhor meu Deus, que criastes todos os anjos e os espíritos incorpóreos, estendestes o céu, fixastes a terra e formastes do nada todas as coisas que existem; vós que sempre ouvis aqueles que fazem vossa vontade, vos temem e observam vossos preceitos, atendei a minha oração e conservai na fidelidade o vosso rebanho, a cuja frente me colocastes, apesar de incompetente e indigno servo.
Livrai-o da malícia ímpia e pagã dos que blasfemam contra vós; fazei crescer a vossa Igreja e a todos reuni na unidade. Tornai o povo perfeito, concorde na verdadeira fé e no reto testemunho; inspirai aos seus corações a palavra da vossa doutrina; porque é dom que vem de vós ter-nos escolhido para pregar o Evangelho de vosso Cristo, encorajando-nos a praticar as boas obras e a fazer o que é de vosso agrado. Aqueles que me destes, a vós entrego, porque são vossos; governai-os com vossa mão poderosa e protegei-os à sombra de vossas asas, para que todos louvem e glorifiquem o vosso nome, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém”.
Depois de ter beijado a todos com o ósculo santo, disse: “Bendito seja Deus que não nos entregou como presa aos dentes de nossos invisíveis adversários, mas rompeu suas armadilhas e nos libertou do mal que tramavam contra nós”. E assim adormeceu no Senhor, com quarenta e dois anos de idade.
O Sumo Pontífice ordenou que todos os gregos que estavam em Roma, juntamente com os romanos, se reunissem junto de seu corpo com velas acesas e cantando; e que suas exéquias fossem celebradas do mesmo modo como se celebram as do próprio Papa. E assim foi feito.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

TEOLOGIA DOS MINISTÉRIOS I

Pe. Cristiano Marmelo


Por que uma teologia dos ministérios?


Até a algum tempo atrás, falar de ministérios era abordar praticamente o sacramento da ordem em seus graus (episcopado, presbiterado, diaconado). Graças a renovação da Igreja ocorrida principalmente no Concílio Vaticano II, passou-se a abordar a diversidade dos ministérios eclesiais e não somente os ministérios ordenados. Isto porque na Igreja não existe apenas os ministérios ordenados, mas uma diversidade de ministérios leigos de igual modo importantes para a evangelização. Dentre tantos encontramos os ministérios de leitores, acólitos, catequistas, os ministérios extraordinários, etc.

O resgate do protagonismo dos leigos na Igreja certamente foi fundamental para que fosse revisto o conceito de ministérios que perdurou por longos séculos na Igreja, resgatando a teologia do sacerdócio batismal (comum) e redimensionando o sacerdócio ministerial (bispos e padres), bem como recuperando a riqueza do diaconado permanente e sua missão no contexto eclesial.

A teologia dos ministérios eclesiais se desenvolveu principalmente depois do Concílio Vaticano II com uma nova abordagem da eclesiologia, agora não mais centrada na estrutura hierárquica e piramidal da Igreja, mas sim, tendo a Igreja como Povo de Deus, onde todos, dentro da sua especificidade, colaboram com a missão da Igreja de levar a salvação a todos os homens e mulheres desta terra.

Os ministérios são um problema eclesiológico e não apenas uma questão funcional. É um problema de estrutura e manifestação da Igreja. Tem haver com a sua própria identidade. Neles estão implicados o ser e o aparecer da Igreja no cumprimento de sua missão no mundo. Deste modo, podemos dizer que a imagem que se tem da Igreja influirá na concepção dos ministérios e por outro lado, a configuração dos ministérios eclesiais depende do modelo de Igreja que se segue.

Por trás de uma concepção dos ministérios há sempre uma concepção de Igreja. Se se tiver uma concepção de Igreja mais “hierárquica-institucional”, que acentue o poder e a autoridade hierarquicamente diante da participação e da diversidade de carismas, vir-se-á a ter uma concepção de ministério mais centralizada, em que o clero é o que sabe, ordena e decide, ficando os ministérios leigos relegados à simples colaboração executiva .

Para uma verdadeira e fiel teologia dos ministérios é necessário seguir outra vertente, proposta pelo Concílio Vaticano II, numa linha de Igreja como “comunhão e participação”, onde os leigos assumem seu protagonismo na evangelização. Deste modo é possível falar de co-responsabilidade, de co-participação e consequentemente de diversidade de ministérios assumidos pelos leigos e leigas na ação eclesial.

Evidentemente que esta concepção de Igreja não desmerece a importância e a necessidade dos ministérios ordenados, mas forma uma complementaridade onde ministros ordenados e ministros leigos caminham juntos, se ajudam na construção do Reino de Deus.

Por este motivo, conceber uma teologia dos ministérios é assumir a diversidade dos ministérios no interior da Igreja e não mais utilizar o singular, mas o plural. Não mais apenas ter como verdadeiros ministérios os ordenados, mas também os não-ordenados, assumidos por leigos e leigas na obra da evangelização.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Texto do Ofício das Leituras na memória de santa Escolástica

Dos Diálogos de São Gregório Magno, papa



Foi mais poderosa aquela que mais amou

Escolástica, irmã de São Bento, consagrada ao Senhor onipotente desde a infância, costumava visitar o irmão, uma vez por ano. O homem de Deus descia e vinha encontrar-se com ela numa propriedade do mosteiro, não muito longe da porta.
Certo dia, veio ela como de costume, e seu venerável irmão com alguns discípulos foi ao seu encontro. Passaram o dia inteiro a louvar a Deus e em santas conversas, de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando sentaram-se à mesa para tomar a refeição.
Como durante as santas conversas o tempo foi passando, a santa monja rogou-lhe: “Peço-te, irmão, que não me deixes esta noite, para podermos continuar falando até de manhã sobre as alegrias da vida celeste”. Ao que ele respondeu-lhe: “Que dizes tu, irmã? De modo algum posso passar a noite fora da minha cela”.
A santa monja, ao ouvir a recusa do irmão, pôs sobre a mesa as mãos com os dedos entrelaçados e inclinou a cabeça sobre as mãos para suplicar o Senhor onipotente. Quando levantou a cabeça, rebentou uma grande tempestade, com tão fortes relâmpagos, trovões e aguaceiro, que nem o venerável Bento nem os irmãos que haviam vindo em sua companhia puderam pôr um pé fora da porta do lugar onde estavam.
Então o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a lamentar-se, dizendo: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã! Que foi que fizeste?” Ela respondeu: “Eu te pedi e não quiseste me atender. Roguei ao meu Deus e ele me ouviu. Agora, pois, se puderes, vai-te embora; despede-te de mim e volta para o mosteiro”.
E Bento, que não quisera ficar ali espontaneamente, teve que ficar contra a vontade. Assim, passaram a noite toda acordados, animando-se um ao outro com santas conversas sobre a vida espiritual. Não nos admiremos que a santa monja tenha tido mais poder do que ele: se, na verdade, como diz São João, Deus é amor (1Jo 4,8), com justíssima razão, teve mais poder aquela que mais amou.
Três dias depois, estando o homem de Deus na cela, levantou os olhos para o alto e viu a alma de sua irmã liberta do corpo, em forma de pomba, penetrar no interior da morada celeste. Cheio de júbilo por tão grande glória que lhe havia sido concedida, deu graças a Deus onipotente com hinos e cânticos de louvor; enviou dois irmãos a fim de trazerem o corpo para o mosteiro, onde foi depositado no túmulo que ele mesmo preparara para si.
E assim, nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Homilia do 6º Domingo Comum

“Tens poder de curar-me”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira C.Ss.R.


A lepra e o amor de Jesus.

Jesus, enviado do Pai para conduzir todos à salvação, tem o poder de curar todos os males, como reconhece o leproso que lhe pede: “Se queres, tens o poder de me curar. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse ‘Eu quero, fica curado!’” (Mc 1,40-41). Tem o poder e a misericórdia. A narrativa da cura do leproso revela a extensão espiritual da missão de Jesus. Como pode curar o corpo tem também poder de realizar a cura espiritual do homem. O milagre explica sua missão e o modo de realizá-la. A leitura do livro do Levítico 13,1-2.44-46 é uma parte da legislação sobre a lepra e os cuidados para não se disseminar a doença. As conseqüências sociais e religiosas são muito pesadas para a pessoa: deveria sair do convívio da comunidade social e religiosa. Era impuro. Estava excluído da vida religiosa. Era impuro também espiritualmente. Quem o tocasse também tornava-se impuro. “Por isso Jesus, depois de tocá-lo, ficou impuro e não podia entrar publicamente numa cidade. Ficava fora, em lugares desertos” (45). Lembra o texto: Ele assumiu nossas dores, carregou sobre si nossos pecados (1Pd 2,24).  Jesus se exclui por assumir a condição do leproso. É a imagem o Servo de Javé que se concretiza Nele. A imagem da lepra é usada para o pecado. Jesus tem o método da aproximação das pessoas para realizar a cura, estando nelas e com elas. Esse milagre mostra que a ressurreição que atinge o homem todo e modifica as estruturas. O texto mostra que as pessoas assumem sua atitude e vão procurá-lo superando a lei discriminatória. Enquanto não assumirmos a vida das pessoas em nossas pastorais, não nos comunicamos e discriminamos.

A lepra do pecado

O sacramento da Penitencia é a presença memorial da compaixão que Jesus sente pelo leproso e todos os sofredores. Este sacramento passou por muitas fases em sua história. Há ainda dificuldades para compreendê-lo e administrá-lo. Para restaurar a vitalidade deste sacramento é necessária a consciência do pecado. Para que isso aconteça é preciso a consciência do Deus que ama e foi deixado de lado. Confissão é a análise da própria vida diante de Deus e das pessoas com a disposição imprescindível de modificar os caminhos. Isto é a conversão. Insiste-se na necessidade da confissão, mas não há catequese e evangelização suficientes para perceber seu valor. O pecado não pode ser um aliado de nosso dia a dia. É uma lepra e podemos dizer como o leproso: “Tens poder de curar-me”. É necessário crer num relacionamento sempre novo com Deus e com as pessoas. O salmo 31 descreve a dinâmica do pecado em nós e o caminho para sairmos desta situação.

Procuro agradar a todos

Paulo ensina como viver num permanente contato com Deus “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31). Sair de si é a profilaxia da lepra espiritual. Como ensina Pedro, “a caridade cobre a multidão de pecados” (1Pd 4,8). Insiste na vida de relacionamentos. O apóstolo é claro: “Fazei como eu que procuro agradar a todos em tudo, não buscando o que é vantajoso para mim, mas o que é vantajoso para todos, a fim de que sejam salvos” (33). A oração da missa pede esse modo de viver: “Dai-nos viver de tal modo, que possais habitar em nós” (Oração). O resultado é a eterna recompensa: “O sacrifício eucarístico nos purifique e renove e seja fonte de eterna recompensa para os que fazem vossa vontade”(oferendas). Uma “missa de cura” é aquela que muda nosso coração para o serviço. Para além disso, é folclore.

Leituras: Levítico 13,1-2.44-46;Salmo 31;1Cor 1031-11,1 Marcos 1,40-45

Ficha nº 1414 – Homilia do 6º Domingo Comum (15.02.15)           

A cura do leproso revela o poder de Jesus e sua misericórdia como também a extensão espiritual de sua missão. Cura o corpo e tem o poder da cura espiritual. O livro do Levítico traz a legislação sobre a lepra. As conseqüências era a discriminação social e religiosa. Impuro como pecador. Jesus o toca e cura, assumindo sua condição, por isso estava fora da cidade. A lepra é imagem do pecado. Jesus se aproxima das pessoas. A pastoral exige aproximação dos discriminados.
O sacramento da Penitência é presença memorial da compaixão de Jesus. Para restaurar sua vitalidade é preciso consciência do pecado e do amor de Deus. Confissão é análise da vida diante de Deus e das pessoas, com disposição de mudar. É necessária a evangelização e a catequese.
Paulo ensina como viver em permanente contato com Deus, em tudo. Pedro escreve que a caridade cobre a multidão dos pecados. Por isso ter atitudes de serviço: procurar agradar a todos. A Eucaristia nos purifique e renove.

Fofocando sobre Jesus       

Jesus curou um leproso. Era uma doença terrível e discriminava a pessoa, inclusive da religião. Não podia participar da vida religiosa do povo. O leproso não podia aproximar-se de ninguém. Ninguém podia tocá-lo. Jesus o toca, assumindo sua condição de discriminado. Só assim Jesus salva: assumindo nossa condição humana, frágil e pecadora.

O leproso curado sai contando para todo mundo o que Jesus fizera, mesmo tendo sido proibido por Ele. Jesus não queria que sua missão se reduzisse em fazer espetáculo, mas mostrar a misericórdia de Deus para que todos chegassem à comunhão com Ele.


Paulo insiste na maneira como os fiéis deveriam viver com os outros. Tudo o que se fizer, seja feito pelo Senhor, não escandalizando ninguém, procurando o que é vantajoso para os outros para que sejam salvos. Que O imitassem, pois assim Ele o fazia. Esta é a maneira de fofocar sobre Jesus.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Texto do Ofício das Leituras na memória de são Paulo Miki e companheiros, mártires

Da História do martírio dos santos Paulo Miki e seus companheiros, escrita por um autor do tempo



Sereis minhas testemunhas

Quando as cruzes foram levantadas, foi coisa admirável ver a constância de todos, à qual eram exortados pelo Padre Passos e pelo Padre Rodrigues. O Padre Comissário permaneceu sempre de pé, sem se mexer e com os olhos fixos no céu. O Irmão Martinho cantava salmos de ação de graças à bondade divina, aos quais acrescentava o versículo: Em vossas mãos, Senhor (Sl 30,6). Também o Irmão Francisco Blanco dava graças a Deus com voz clara. O Irmão Gonçalo recitava em voz alta o Pai-nosso e a Ave-Maria.

O nosso Irmão Paulo Miki, vendo-se colocado diante de todos no mais honroso púlpito que nunca tivera, começou por declarar aos presentes que era japonês e pertencia à Companhia de Jesus, que ia morrer por haver anunciado o Evangelho e que dava graças a Deus por lhe conceder tão imenso benefício. E por fim disse estas palavras: “Agora que cheguei a este momento de minha vida, nenhum de vós duvidará que eu queira
esconder a verdade. Declaro-vos, portanto, que não há outro caminho para a salvação fora daquele seguido pelos cristãos. E como este caminho me ensina a perdoar os inimigos e os que me ofenderam, de todo o coração perdoo o Imperador e os responsáveis pela minha morte, e lhes peço que recebam o batismo cristão.

Em seguida, voltando os olhos para os companheiros, começou a encorajá-los neste momento extremo. No rosto de todos transparecia uma grande alegria, mas era no de Luís que isto se percebia de modo mais nítido. Quando um cristão gritou que em breve estaria no paraíso, ele fez com as mãos e o corpo um gesto tão cheio de contentamento que os olhares dos presentes se fixaram nele.
Antônio estava ao lado de Luís, com os olhos voltados para o céu. Depois de invocar os santíssimos nomes de Jesus e de Maria, entoou o salmo Louvai, louvai, ó servos do Senhor (Sl 112,1), que tinha aprendido na escola de catequese em Nagasáki; de fato, durante o catecismo, costumavam ensinar alguns salmos às crianças.

Alguns repetiam com o rosto sereno: “Jesus, Maria”; outros exortavam os presentes a levarem uma vida digna de cristãos; e por estas e outras ações semelhantes demonstravam estar prontos para a morte.

Finalmente os quatro carrascos começaram a tirar as espadas daquelas bainhas que os japoneses costumam usar. Vendo cena tão horrível, os fiéis gritavam: “Jesus! Maria!”
Seguiram-se lamentos tão sentidos de tocar os próprios céus. Ferindo-os com um primeiro e um segundo golpe, em pouco tempo os carrascos mataram a todos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Texto do Ofício das Leituras da memória de santa Águeda

Do Sermão na festa de Santa Águeda, de São Metódio da Sicília, bispo



Dom que nos foi concedido por Deus,
verdadeira fonte da bondade

A comemoração do aniversário de Santa Águeda nos reúne a todos neste lugar, como se fôssemos um só. Bem conheceis, meus ouvintes, o combate glorioso desta mártir, uma das mais antigas e ao mesmo tempo tão recente que parece estar agora mesmo lutando e vencendo, através dos divinos milagres com os quais diariamente é coroada e ornada.
A virgem Águeda nasceu do Verbo de Deus imortal e seu único Filho, que também padeceu a morte por nós. Com efeito, João, o teólogo, assim se exprime: A todos aqueles que o receberam, deu-lhes a capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,12).
É uma virgem esta mulher que nos convidou para o sagrado banquete; é a mulher desposada com um único esposo, Cristo, para usar as mesmas expressões do apóstolo Paulo, ao falar da união conjugal. É uma virgem que pintava e enfeitava os olhos e os lábios com a luz da consciência e a cor do sangue do verdadeiro e divino Cordeiro; e que, pela meditação contínua, trazia sempre em seu íntimo a morte daquele que tanto amava. Deste modo, a mística veste de seu testemunho fala por si mesma a todas as gerações futuras, porque traz em si a marca indelével do sangue de Cristo e o tesouro inesgotável da sua eloquência virginal.
Ela é uma imagem autêntica da bondade, porque, sendo de Deus, vem da parte de seu Esposo nos tornar participantes daqueles bens, dos quais seu nome traz o valor e o significado: Águeda (que quer dizer “boa”) é um dom que nos foi concedido por Deus, verdadeira fonte de bondade.
Qual a causa suprema de toda a bondade, senão aquela que é o Sumo Bem? Por isso, quem encontrará algo mais que mereça, como Águeda, os nossos elogios e louvores?
Águeda, cuja bondade corresponde tão bem ao nome e à realidade! Águeda, que pelos feitos notáveis traz consigo um nome glorioso, e no próprio nome demonstra as ilustres ações que realizou! Águeda, que nos atrai com o nome, para que todos venham ao seu encontro, e com o exemplo nos ensina a corrermos sem demora para o verdadeiro bem, que é Deus somente!