quarta-feira, 29 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Comemoração de Santa Catarina de Sena, Virgem e doutora da Igreja

Do Diálogo sobre a divina Providência, de Santa Catarina de Sena

Provei e vi

        Ó Divindade eterna, ó eterna Trindade, que pela união da natureza divina tanto fizeste valer o sangue de teu Filho unigênito! Tu, Trindade eterna, és como um mar profundo, onde quanto mais procuro mais encontro; e quanto mais encontro, mais cresce a sede de te procurar. Tu sacias a alma, mas de um modo insaciável; porque, saciando-se no teu abismo, a alma permanece sempre sedenta e faminta de ti, ó Trindade eterna, cobiçando e desejando ver-te à luz de tua luz.
        Provei e vi em tua luz com a luz da inteligência, o teu insondável abismo, ó Trindade eterna, e a beleza de tua criatura. Por isso, vendo-me em ti, vi que sou imagem tua por aquela inteligência que me é dada como participação do teu poder, ó Pai eterno, e também da tua sabedoria, que é apropriada ao teu Filho unigênito. E o Espírito Santo, que procede de ti e de teu Filho, deu-me a vontade que me torna capaz de amar-te.
        Pois tu, ó Trindade eterna, és criador e eu criatura; e conheci – porque me fizeste compreender quando de novo me criaste no sangue de teu Filho – conheci que estás enamorado pela beleza de tua criatura.
        Ó abismo, ó Trindade eterna, ó Divindade, ó mar profundo! Que mais poderias dar-me do que a ti mesmo? Tu és um fogo que arde sempre e não se consome. Tu és que consomes por teu calor todo o amor profundo da alma. Tu és de novo o fogo que faz desaparecer toda frieza e iluminas as mentes com tua luz. Com esta luz me fizeste conhecer a verdade.
        Espelhando-me nesta luz, conheço-te como Sumo Bem, o Bem que está acima de todo bem, o Bem feliz, o Bem incompreensível, o Bem inestimável, a Beleza que ultrapassa toda beleza, a Sabedoria superior a toda sabedoria. Porque tu és a própria Sabedoria, tu,o pão dos anjos, que no fogo da caridade te deste aos homens.
        Tu és a veste que cobre minha nudez; alimentas nossa fome com a tua doçura, porque és doce sem amargura alguma. Ó Trindade eterna!

sábado, 25 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Festa de São Marcos, Evangelista

Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo

A pregação da verdade

        A Igreja, espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra, recebeu dos apóstolos e de seus discípulos a fé em um só Deus, Pai todo-poderoso, que criou o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe (cf. At 4,24); em um só Jesus Cristo Filho de Deus, que se fez homem para nossa salvação; e no Espírito Santo, que, pela boca dos profetas, anunciou antecipadamente os desígnios de Deus: a vinda de Jesus Cristo, nosso amado Senhor, o seu nascimento de uma Virgem, a sua paixão e ressurreição de entre os mortos, a ascensão corporal aos céus, a sua futura vinda do céu na glória do Pai. Então ele virá para recapitular o universo inteiro (cf. Ef 1,10) e ressuscitar todos os homens, a fim de que, segundo a vontade do Pai invisível, diante de Cristo Jesus nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua o proclame (cf. Fl 2,10-11), e ele julgue todos os homens com justiça.
        A Igreja recebeu, como dissemos, e guarda com todo cuidado esta pregação e esta fé; apesar de espalhada pelo mundo inteiro, guarda-a como se morasse em uma só casa. Acredita nela como quem possui uma só alma e um só coração; e a proclama, ensina e transmite, como se tivesse uma só boca. Porque, embora através do mundo haja línguas muito diferentes, a força da Tradição é uma só e a mesma para todos.
        As Igrejas fundadas na Germânia, as que se encontram na Ibéria e nas terras celtas, as do Oriente, do Egito e Líbia, ou as do centro do mundo, não creem nem ensinam de modo diferente. Assim como o sol, criatura de Deus, é um só e o mesmo para todo o universo, igualmente a pregação da verdade brilha em toda parte e ilumina todos os homens que querem chegar ao conhecimento da verdade.
        E dos que presidem às Igrejas, nem mesmo o mais eloquente, dirá coisas diferentes das que afirmamos, pois ninguém está acima do divino Mestre; nem o orador menos hábil enfraquecerá a Tradição. Sendo uma só e mesma a fé, nem aquele que muito diz sobre ela a aumenta, nem aquele que diz menos a diminui.

sábado, 11 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da comemoração de Santo Estanislau, Bispo e Mártir

Das Cartas de São Cipriano, bispo e mártir

Combatendo o bom combate 

        Enquanto combatemos o bom combate da fé, Deus, seus anjos e o próprio Cristo nos contemplam. Que glória imensa e que felicidade lutarmos na presença de Deus e sermos coroados por Cristo Juiz! 
        Armemo-nos, queridos irmãos, de coragem e fortaleza, e preparemo-nos para a luta com pureza de espírito, fé inquebrantável e generosa confiança. Avance o exército de Deus para a batalha que nos foi proposta. O santo Apóstolo ensina como nos devemos armar e preparar: Cingi os vossos rins com a verdade, revesti-vos com a couraça da justiça e calçai os vossos pés com a prontidão em anunciar o evangelho da paz. Tomai o escudo da fé, o qual vos permitirá apagar todas as flechas ardentes do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e o gládio do espírito, isto é, a Palavra de Deus (Ef 6,14-17). 
        Tomemos estas armas, protejamo-nos com estas defesas espirituais e celestes, para podermos resistir e vencer os assaltos do demônio no dia do combate. 
        Revistamo-nos com a couraça da justiça. Com ela nosso peito estará protegido e seguro contra as flechas do inimigo. Estejam nossos pés calçados e guarnecidos com a doutrina evangélica. Assim, quando pisarmos e esmagarmos a serpente, não seremos mordidos nem vencidos.  
        Seguremos com firmeza o escudo da fé, para que nele seja destruído tudo quanto o inimigo lançar contra esta proteção. 
        Tomemos também o capacete espiritual para proteger nossa cabeça; com ele, os ouvidos não escutarão os anúncios da maldade, os olhos não verão as imagens detestáveis, a fronte conservará incólume o sinal de Deus e a boca proclamará vitoriosamente a Cristo, seu Senhor. 
        Armemos finalmente nossa mão direita com a espada espiritual para rejeitar com determinação os sacrifícios infames; e, lembrando-nos da eucaristia, recebamos o corpo do Senhor e vivamos em união com ele, esperando receber mais tarde, das mãos do mesmo Senhor, o prêmio das coroas celestes. 
        Que estas realidades, queridos irmãos, fiquem bem gravadas em vossos corações. Se o dia da perseguição nos encontrar nestes pensamentos e meditações,o soldado de Cristo, instruído por suas ordens e preceitos, não temerá o combate, mas estará pronto para a coroa.

Texto do Ofício das Leituras do Sábado da Oitava da Páscoa

Das Catequeses de Jerusalém

O pão do céu e a bebida da salvação

        Na noite em que foi entregue, nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei: isto é o meu corpo”. Em seguida, tomando o cálice, deu graças e disse: “Tomai e bebei: isto é o meu sangue” (cf. Mt 26,26-27; 1Cor 11,23-24). Tendo, portanto, pronunciado e dito sobre o pão: Isto é o meu corpo, quem ousará duvidar? E tendo afirmado e dito: Isto é o meu sangue, quem se atreverá ainda a duvidar e dizer que não é o seu sangue? 
        Recebamos, pois, com toda a convicção, o Corpo e o Sangue de Cristo. Porque sob a forma de pão é o corpo que te é dado, e sob a forma de vinho, é o sangue que te é entregue. Assim, ao receberes o corpo e o sangue de Cristo,te transformas com ele num só corpo e num só sangue. Deste modo, tendo assimilado em nossos membros o seu corpo e o seu sangue, tornamo-nos portadores de Cristo; tornamo-nos, como diz São Pedro, participantes da natureza divina (2Pd 1,4).  
        Outrora, falando aos judeus, dizia Cristo: Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós (cf. Jo 6,53). Como eles não compreenderam o sentido espiritual do que lhes era dito, afastaram-se escandalizados, julgando estarem sendo induzidos por Jesus a comer carne humana. 
        Na Antiga Aliança havia os pães da propiciação; por pertencerem ao Velho Testamento, já não mais existem. Na Nova Aliança, porém, trata-se de um pão do céu e de um cálice da salvação que santificam a alma e o corpo. Assim como o pão é próprio para a vida do corpo, também o Verbo é próprio para a vida da alma.  
        Por isso, não consideres o pão e o vinho eucarísticos como se fossem elementos simples e vulgares. São realmente o corpo e o sangue de Cristo, segundo a afirmativa do Senhor. Muito embora os sentidos te sugiram outra coisa, tem a firme certeza do que a fé te ensina. 
        Se foste bem instruído pela doutrina da fé, acreditas firmemente que aquilo que parece pão, embora seja como tal sensível ao paladar, não é pão, mas é o corpo de Cristo. E aquilo que parece vinho, muito embora tenha esse sabor, não é vinho, mas é o sangue de Cristo. Antigamente, bem a propósito, já dizia Davi nos salmos: O pão revigora o coração do homem, e o óleo ilumina a sua face (Sl 103,15). Fortifica, pois, teu coração, recebendo esse pão espiritual e faze brilhar a alegria no rosto de tua alma. 
        Com o rosto iluminado por uma consciência pura, contemplando como num espelho a glória do Senhor, possas caminhar de claridade em claridade, em Cristo Jesus, nosso Senhor, a quem sejam dadas honra, poder e glória pelos séculos sem fim. Amém.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Sexta-feira da Oitava das Páscoa

Das Catequeses de Jerusalém


A unção do Espírito Santo

        Batizados em Cristo e revestidos de Cristo, vós vos tomastes semelhantes ao Filho de Deus. Com efeito, Deus que nos predestinou para a adoção de filhos tornou-nos semelhantes ao corpo glorioso de Cristo. Feitos, portanto, participantes do corpo de Cristo, com toda razão sois chamados "cristãos", isto é, ungidos; pois foi de vós que Deus disse: Não toqueis nos meus ungidos (Sl 104,15).
        Tomastes-vos "cristãos" no momento em que recebestes o selo do Espírito Santo; e tudo isto foi realizado sobre vós em imagem, uma vez que sois imagem de Cristo. Na verdade, quando ele foi batizado no rio Jordão e saiu das águas, nas quais deixara a fragrância de sua divindade, realizou-se então a descida do Espírito Santo em pessoa, repousando sobre ele como o igual sobre o igual.
        O mesmo aconteceu convosco: depois que subistes da fonte sagrada, o óleo do crisma vos foi administrado, imagem real daquele com o qual Cristo foi ungido, e que é, sem dúvida, o Espírito Santo. Isaías, contemplando profeticamente este Espírito, disse em nome do Senhor: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa-nova aos humildes (Is 61,1).
        Cristo jamais foi ungido por homem, seja com óleo ou com outro unguento material. Mas o Pai, ao predestiná-lo como Salvador do mundo inteiro, o ungiu com o Espírito Santo. É o que nos diz Pedro: Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo (At 10,38). E o profeta Davi cantava: Vosso trono, ó Deus, é eterno, sem fim; vosso cetro real é sinal de justiça: vós amais a justiça e odiais a maldade. É por isso que Deus vos ungiu com seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos (Sl 44,7-8).
        Cristo foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo, chamado óleo de alegria, precisamente por ser o autor da alegria espiritual. Vós, porém, fostes ungidos com o óleo do crisma, tornando-vos participantes da natureza de Cristo e chamados a conviver com ele.
        Quanto ao mais, não julgueis que este crisma é um óleo simples e comum. Depois da invocação já não é um óleo simples e comum, mas um dom de Cristo e do Espírito Santo, tornando-se eficaz pela presença da divindade. Simbolicamente unge-se com ele a fronte e os outros membros. E enquanto o corpo é ungido com óleo visível, o homem é santificado pelo espírito que dá a vida. 
 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Quinta-feira da Oitava da Páscoa

Das Catequeses de Jerusalém

O Batismo, sinal da paixão de Cristo 

        Fostes conduzidos à santa fonte do divino Batismo, como Cristo, descido da cruz, foi colocado diante do sepulcro. 
        A cada um de vós foi perguntado se acreditava no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Vós professastes a fé da salvação e fostes por três vezes mergulhados na água e por três vezes dela saístes; deste modo, significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de Cristo. 
        Assim como nosso Senhor passou três dias e três noites no seio da terra, também vós, na primeira emersão, imitastes o primeiro dia em que Cristo esteve debaixo da terra; e na imersão, a primeira noite. De fato, como aquele que vive nas trevas não enxerga nada, pelo contrário, aquele que anda de dia está envolvido em plena luz. Assim também vós, na imersão, como que mergulhados na noite, nada vistes; mas na emersão, fostes como que restituídos ao dia. Num mesmo instante, morrestes e nascestes, e aquela água de salvação tornou-se para vós, ao mesmo tempo, sepulcro e mãe. 
        Apesar de situar-se em outro contexto, a vós se aplica perfeitamente o que disse Salomão: Há um tempo para nascer e um tempo para morrer (Ecl 3,2). Convosco sucedeu o contrário: houve um tempo para morrer e um tempo para nascer. Num mesmo instante realizaram-se ambas as coisas e, com a vossa morte, coincidiu o vosso nascimento.  
        Ó fato novo e inaudito! Na realidade, não morremos nem fomos sepultados nem crucificados nem ainda ressuscitamos. No entanto, a imitação desses atos foi expressa através de uma imagem e daí brotou realmente a nossa salvação. 
        Cristo foi verdadeiramente crucificado, verdadeiramente sepultado e ressuscitou verdadeiramente. Tudo isto foi para nós um dom da graça, a fim de que, participando da sua paixão através do mistério sacramental, obtenhamos na realidade a salvação. 
        Ó maravilha de amor pelos homens! Em seus pés e mãos inocentes, Cristo recebeu os cravos e suportou a dor; e eu, sem dor nem esforço, mas apenas pela comunhão em suas dores, recebo gratuitamente a salvação. 
        Ninguém, portanto, julgue que o batismo consista apenas na remissão dos pecados e na graça da adoção filial. Assim era o batismo de João que concedia tão-somente o perdão dos pecados. Pelo contrário, sabemos perfeitamente que o nosso batismo não só apaga os pecados e confere o dom do Espírito Santo, mas é também o exemplar e a expressão dos sofrimentos de Cristo. É por isso mesmo que Paulo exclama: Será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados? Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele (Rm 6,3-4).

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Quarta-feira da Oitava da Páscoa

Da Homilia pascal de um Autor antigo 

Cristo, autor da ressurreição e da vida

        Lembrando a felicidade da salvação recuperada, Paulo exclama: assim como por Adão entrou a morte neste mundo, da mesma forma por Cristo foi restituída a salvação ao mundo. (cf. Rm 5,12). E ainda: O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem, que vem do céu, é celeste (1Cor 15,47).
        E prossegue, dizendo: Como já refletimos a imagem do homem terreno, isto é, envelhecido pelo pecado, assim também refletimos a imagem do celeste (1Cor 15,49), ou seja, conservaremos a salvação do homem recuperado, redimido, renovado e purificado em Cristo. Segundo o mesmo Apóstolo, Cristo é o princípio, quer dizer, é o autor da ressurreição e da vida; em seguida, vêm os que são de Cristo, isto é, os que vivendo na imitação da sua santidade, podem considerar-se sempre seguros na esperança da sua ressurreição e receber com ele a glória da promessa celeste. É o próprio Senhor quem afirma no Evangelho: Quem me segue não perecerá, mas passará da morte para a vida (cf. Jo 5,24).
        Deste modo, a paixão do Salvador é a salvação da vida humana. Precisamente para isso ele quis morrer por nós, a fim de que, acreditando nele, vivamos para sempre. Ele quis, por algum tempo, tornar-se o que somos, para que, alcançando a sua promessa de eternidade, vivamos com ele para sempre.
        É esta a imensa graça dos mistérios celestes, é este o dom da Páscoa, é esta a grande festa anual tão esperada, é este o princípio da nova criação.
        Nesta solenidade, os novos filhos que são gerados nas águas vivificantes da santa Igreja, com a simplicidade de crianças recém-nascidas, fazem ouvir o balbuciar da sua consciência inocente. Nesta solenidade, os pais e mães cristãos obtêm, por meio da fé, uma nova e inumerável descendência.
        Nesta solenidade, à sombra da árvore da fé, brilha o esplendor dos círios com o fulgor que irradia da pura fonte batismal. Nesta solenidade, desce do céu o dom da graça que santifica os recém-nascidos e o sacramento espiritual do admirável mistério que os alimenta.
        Nesta solenidade, a assembleia dos fiéis, alimentada no regaço materno da santa Igreja, formando um só povo e uma só família, adorando a Unidade da natureza divina e o nome da Trindade, canta com o Profeta o salmo da grande festa anual: Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos (Sl 117,24).
        Mas, pergunto, que dia é este? Precisamente, aquele que nos trouxe o princípio da vida, a origem e o autor da luz, o próprio Senhor Jesus Cristo que de si mesmo afirma: Eu sou a luz. Se alguém caminha de dia, não tropeça (Jo 8,12; 11,9), quer dizer, aquele que em todas as coisas segue a Cristo, chegará, seguindo os seus passos, ao trono da eterna luz. Assim pedia ele ao Pai em nosso favor, quando ainda vivia em seu corpo mortal, ao dizer: Pai, quero que onde eu estou, aí estejam também os que acreditaram em mim; para que assim como tu estás em mim e eu em ti, assim também eles estejam em nós (cf. Jo 17,20s). 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Terça-feira da Oitava daPáscoa

Dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia 

Era necessário que Cristo sofresse
para assim entrar em sua glória

        Cristo, por suas palavras e ações, revelou que era verdadeiro Deus e Senhor do universo. Ao subir para Jerusalém com seus discípulos, dizia-lhes: Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos gentios, aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei, para ser escarnecido, flagelado e crucificado (Mt 20,18.19). Fazia, na verdade, estas afirmações em perfeita consonância com as predições dos profetas, que haviam anunciado sua morte em Jerusalém.
        Desde o princípio, a Sagrada Escritura havia predito a morte de Cristo com os sofrimentos que a precederiam, e também tudo quanto aconteceu com seu corpo depois da morte; predisse igualmente que aquele a quem tudo isto sucedeu é Deus impassível e imortal. De outro modo, nunca poderíamos afirmar que era Deus se, ao contemplarmos a verdade da encarnação, não encontrássemos nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, seu sofrimento e sua impassibilidade. O motivo pelo qual o Verbo de Deus, e portanto impassível, se submeteu à morte é que, de outra maneira, o homem não podia salvar-se. Este motivo somente ele o conhece e aqueles aos quais revelou. De fato, o Verbo conhece tudo o que é do Pai, como o Espírito que esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus (1Cor 2,10).
        Realmente, era preciso que Cristo sofresse. De modo algum a paixão podia deixar de acontecer. Foi o próprio Senhor quem declarou, quando chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Cristo sofresse, para assim entrar em sua glória. Por isso, veio ao encontro do seu povo para salvá-lo, deixando aquela glória que tinha junto do Pai, antes da criação do mundo. Mas a salvação devia consumar-se por meio da morte do autor da nossa vida, como ensina São Paulo: Consumado pelos sofrimentos, ele se tornou o princípio da vida (cf. Hb 2,10).
        Deste modo se vê como a glória do Filho unigênito, glória esta que por nossa causa ele havia deixado por breve tempo, foi-lhe restituída por meio da cruz, na carne que tinha assumido. É o que afirma São João, no seu evangelho, ao indicar qual era aquela água de que falava o Salvador: Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé nele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado (Jo 7,38-39); e chama glória a morte na cruz. Por isso, quando o Senhor orava, antes de ser crucificado, pedia ao Pai que o glorificasse com aquela glória que tinha junto dele, antes da criação do mundo. 

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Texto do Ofício das Leituras da Segunda-feira da Oitava da Páscoa

Da Homilia sobre a Páscoa, de Melitão, bispo de Sardes

O louvor de Cristo

        Prestai atenção, caríssimos: o mistério pascal é ao mesmo tempo novo e antigo, eterno e transitório, corruptível e incorruptível, mortal e imortal.
        É mistério antigo segundo a Lei, novo segundo a Palavra que se fez carne; transitório pela figura, eterno pela graça; corruptível pela imolação do cordeiro, incorruptível pela vida do Senhor; mortal pela sua sepultura na terra, imortal pela sua ressurreição dentre os mortos.  
        A Lei, na verdade, é antiga, mas a Palavra é nova; a figura é transitória, mas a graça é eterna; o cordeiro é corruptível, mas o Senhor é incorruptível, ele que,imolado como cordeiro, ressuscitou como Deus.  
        Na verdade, era como ovelha levada ao matadouro, e contudo não era ovelha; era como cordeiro silencioso (Is 53,7), e no entanto não era cordeiro. Porque a figura passou e apareceu a realidade perfeita: em lugar de um cordeiro, Deus; em vez de uma ovelha, o homem; no homem, porém, apareceu Cristo que tudo contém.  
        Por conseguinte, a imolação da ovelha, a celebração da páscoa e a escritura da Lei tiveram a sua perfeita realização em Jesus Cristo; pois tudo o que acontecia na antiga Lei se referia a ele, e mais ainda na nova ordem, tudo converge para ele.  
        Com efeito, a Lei fez-se Palavra e, de antiga, tornou-se nova (ambas oriundas de Sião e de Jerusalém); o preceito deu lugar à graça, a figura transformou-se em realidade, o cordeiro em Filho, a ovelha em homem e o homem em Deus. 
        O Senhor, sendo Deus, fez-se homem e sofreu por aquele que sofria; foi encarcerado em lugar do prisioneiro, condenado em vez do criminoso e sepultado em vez do que jazia no sepulcro; ressuscitou dentre os mortos e clamou com voz poderosa: “Quem é que me condena? Que de mim se aproxime (Is 50,8). Eu libertei o condenado, dei vida ao morto, ressuscitei o que estava sepultado. Quem pode me contradizer? Eu sou Cristo, diz ele, que destruí a morte, triunfei do inimigo, calquei aos pés o inferno, prendi o violento e arrebatei o homem para as alturas dos céus. Eu, diz ele, sou Cristo. 
        Vinde, pois, todas as nações da terra oprimidas pelo pecado e recebei o perdão. Eu sou o vosso perdão, vossa páscoa da salvação, o cordeiro por vós imolado, a água que vos purifica, a vossa vida, a vossa ressurreição, a vossa luz, a vossa salvação, o vosso rei. Eu vos conduzirei para as alturas, vos ressuscitarei e vos mostrarei o Pai que está nos céus; eu vos levantarei com a minha mão direita”.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Teologia dos ministérios (conclusão)


Concluindo


Fazer teologia dos ministérios é contemplar a diversidade dos ministérios eclesiais, onde todos se complementam. Não deve haver isolamento ou exclusividade, mas co-responsabilidade e complementariedade. O fundamento de todo ministério na Igreja é o próprio ministério de Jesus Cristo. Nosso serviço nada mais é do que levar adiante a obra por ele começada. Deste modo, desde cedo na Igreja houve uma grande variedade de ministérios e funções sempre voltados para o bem comum de toda a comunidade cristã. Queremos com nosso curso de teologia dos ministérios sistematizar e compreender a ministerialidade da Igreja e nossa missão em seu interior.