Fortaleza
no combate
Pe. Luiz Carlos de Oliveira, C.Ss.R.
Iniciamos a Quaresma com a
cerimônia da imposição das cinzas. É uma tradição antiga que significa entrar
em penitência e conversão. Por esse rito iniciamos a caminhada para a Páscoa
com a renovação de nosso batismo pelo qual participamos da Morte e Ressurreição
do Senhor. É um momento importante para aprofundar a vivência do Mistério
Pascal de Cristo. Na oração de bênção das cinzas imploramos: “Derramai a graça
da vossa benção sobre os fiéis que vão receber estas cinzas para que,
prosseguindo na observância da Quaresma, possam celebrar de coração purificado
o Mistério Pascal do vosso Filho”. É tempo de reconciliação com Deus
aprofundando as exigências da aliança que fizemos em nosso Batismo e
confirmamos em cada Eucaristia. Paulo insiste na carta aos Coríntios: “Em nome
de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus… Exortamos a não
receberdes em vão a graça de Deus” (2Cor 6,1). E lembra que estamos em um tempo
favorável: “É agora o tempo favorável, é agora o dia da salvação” (2). A
aclamação ao evangelho exclama: “Oxalá ouvísseis hoje sua voz: não fecheis os
corações como em Meriba” (Sl 94,8). O combate é contra o mal que criamos e
consome nossas forças. A tentação Jesus é a nossa também. Vamos vencer com Ele,
porque estamos unidos a Ele em seu mistério de Paixão, Morte e
Ressurreição. A graça é maior que nossas
fraquezas.
Dimensões
da luta
Vivemos um processo de
conversão. Para esse tempo, temos como meio o que Jesus ensina: oração, jejum e
esmola. O jejum é muito aconselhável. Não se trata de passar fome, mas de
predispor à caridade e à oração, sem os quais o jejum perde o sentido. Isso já
proclamou o profeta Isaías (Is 58,1-8). É interessante notar que a prática
quaresmal de jejum, abstinência e oração são explicitações das três dimensões
fundamentais do ser humano: sua relação com o Divino, com o outro e o mundo.
Não se trata de um rito de passar fome, rezar e dar uma esmolinha, mas
restaurar a harmonia do ser humano. O desequilíbrio da pessoa está na má gestão
destes relacionamentos. O homem restaurado será o homem ressuscitado em Cristo,
com novas atitudes. De Deus somos filhos, do outro somos irmãos e do mundo
somos protetores. Se mudarmos este quadro e passamos a ser guiados pelas
realidades do mundo, nós as tornamos deuses; Deus se torna outro qualquer sem
significado para nossa vida. O irmão será escravo de um mundo explorado.
Chegamos ao desequilíbrio e desarmonia. A oração nos faz voltar a Deus, A
esmola nos torna fraternos e o jejum nos põe em equilíbrio no mundo. Fazer
fechados no quarto significa o quarto do coração. Nesse, Deus habita e conhece.
Tempo
de penitência
Pedimos perdão, pois somos
pecadores. O jejum é a luta do dia a dia para vencer o mal. E a caridade
sustenta essa luta e nos põe a serviço dos irmãos. Rezamos no prefácio da
Eucaristia deste dia: “Pela penitência da Quaresma corrigis nossos vícios,
elevais nossos sentimentos, fortificais nosso espírito fraterno e nos garantis
uma eterna recompensa”. Jesus pede sinceridade de coração. Que ela seja
encontro com Deus. A esmola seja oculta, pois só é boa quando é feita por Deus.
O jejum não é passar fome, mas tirar o supérfluo em nossa vida. O mal pode nos
dominar. Se cortarmos suas raízes ele morre. Para vencer é preciso buscar na
Palavra de Deus e ter criatividade para superar. A campanha da Fraternidade
convida à solidariedade. A morte de Jesus é solidariedade com todos que sofrem
sob o peso do pecado. Ele assume nossos males e os prega na cruz com Ele.
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