A memória da Virgem
Na celebração deste ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja
venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do
seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o
mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que
ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser (SC 103).
A Sacrosanctum Concilium no número 103 dá um lugar de
destaque a Virgem Maria devido sua íntima união com a obra da salvação
realizada em Jesus Cristo, seu Filho. Como afirma LLABRÉS: “A memória de
Maria na liturgia aparece unida primordialmente à memória dos eventos
salvíficos realizados por Jesus.”[4]
Há de se destacar dois aspectos ao celebrar
a memória da Virgem Maria na liturgia:
a) Na memória de Maria, a Igreja cultua a Deus
Ao celebrar a memória da Virgem Maria,
a Igreja cultua a Deus que, como ela mesmo canta no magnificat:“Fez grandes
coisas em seu favor” (Lc 1,49). De fato, ao celebrarmos os mistérios de
Cristo na vida da Bem-aventurada Virgem Maria, damos graças ao Senhor que olhou
para sua serva, Maria, e fez grandes coisas em seu favor. Maria aparece na
Sagrada Escritura indissoluvelmente unida a obra de Cristo e, por conseguinte a
obra da salvação (cf. Mt 1,22-23; Lc 1,28-38; 2,35; Jo 2,4-6; 19,25-27).
Mesmo depois da paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus aos céus, Maria
continua unida a Igreja nascente (cf. Atos 1,14). Deste modo, celebrando a
memória de Maria na liturgia, fazemos memória de toda a obra da salvação que
Deus Pai realizou em seu Filho Jesus Cristo. “Ao honrar Maria, a Igreja quer
glorificar a Cristo, de quem vêm a Maria todos os privilégios. A Igreja admira
Maria, o fruto mais excelente da redenção”[5]. A Constituição Dogmática Lumen Gentium afirma
que:
Este culto, tal como existiu sempre na Igreja, é de todo singular, mas
difere essencialmente do culto de adoração que é prestado ao Verbo encarnado e
do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo, e muito contribui para ele. Pois que
as várias formas de devoção para com a Mãe de Deus, que a Igreja aprovou –
dentro dos limites da doutrina Sã e ortodoxa, segundo as circunstâncias como
sinal de esperança segura e de consolação, aos olhos do povo de Deus peregrino
(LG 68).
b) Maria aparece como modelo a ser imitado
Fazendo memória da Virgem Maria a
Igreja celebra “tudo o que ela deseja e espera com alegria ser” (SC
103). A Constituição Dogmática Lumen Gentium nos oferece uma
riquíssima reflexão acerca do valor de Maria para a vida da Igreja. Ela dedica
todo o capítulo 8 para tratar de Maria no mistério de Cristo e da Igreja. A
Constituição afirma que “A mãe de Deus é a figura da Igreja” (LG 63). E
continua dizendo que:
A Igreja, contemplando a santidade misteriosa de Maria, imitando a sua
caridade, e cumprindo fielmente a vontade do Pai, pela Palavra de Deus
fielmente recebida torna-se também ele mãe: pela pregação e pelo batismo gera,
para uma vida nova e imortal, os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos
de Deus. E é também virgem, que guarda a fé jurada ao Esposo, íntegra e pura;
e, à imitação da Mãe do seu Senhor, conserva, pela graça do Espírito Santo,
virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade (LG 64).
[4]LLABRÉS, P. O culto a Santa Maria, Mãe de Deus. In:
BOROBIO, Dionísio. A celebração na Igreja. Vol. 3. São Paulo: Loyola, 2000, p.
218.
[5]NICOLAU, Miguel. Concílio Vaticano II –Constituição
Litúrgica: texto e comentário teológico-pastoral. Braga: Secretariado Nacional
do Apostolado da Oração, 1968, p. 148.
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